segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O Sonho - XI

Nesse dia, umas horas mais tarde o Rui ligou-me:
"Cat, que se passa contigo querida?!" - "Preciso de ti... simplesmente! Preciso dum amigo, preciso dum ombro, dum apoio..."

Não... eu precisava dele porque sabia que ao mesmo fim deste tempo ele continuava a olhar para mim como a "mulher" que ele queria ao seu lado, para o acompanhar em tudo o que fazia. Não sei explicar porquê mas achei que essa seria a melhor solução para perceber o que se estava a passar comigo! Ele poderia ajudar-me a desvendar o que ía dentro de mim e certamente que me faria abstraír por uns dias em NY...e eu precisava disso.

"O único problema é que só consigo meter uns diazinhos para a próxima semana e no máximo consigo ficar aí 4 dias, 5 talvez.. mas já com muita sorte!"
"Não te preocupes... nem que fosse somente uma tarde, eu já ficava feliz..."
"Querida... eu vou ter contigo, dê por onde der, não te preocupes. Assim que tiver tudo tratado relativamente ao bilhete, eu aviso-te. Um beijo, toma conta de ti."

Quando desliguei o telefone, a Pilar ligou-me e desafiou-me para ir comer uma fatia de tarte e beber um chá. Combinámos que nos encontraríamos daí a uma hora à porta do Pie Lounge, conhecido café com variado número de tartes deliciosas que muitas vezes valiam mais do que um abraço... Aquele sim, era um verdadeiro conforto!

Passada uma hora encontrámo-nos à porta do café... Acabavámos de entrar no mês de Novembro, a noite começava a gelar as maçãs do rosto e os nós dos dedos. Cheirava a frio, a Natal, a sonhos de abóbora da minha avó...
Quando vi a Pilar, sem lhe dirigir a palavra, abracei-a como se estivesse a abraçar uma das minhas melhores amigas... Nela revi qualquer uma delas naquele momento... era como se as tivesse ido buscar todas a casa e fossemos beber um copo ao Bairro Alto ou a qualquer barzinho calmo e simpático de Lisboa, onde eu pudesse chorar, falar e gargalhar ao contar tudo o que ía dentro de mim e se estava a passar. Pilar, levantou uma sobrancelha e balbuciou:
"Hoy Tía, me vas dizer tudo que se passa entre ti e ele..." - e assim foi... bebemos mais de um litro de chá cada uma e devorámos 3 fatias de tarte cada uma... Nessa noite não houve remorosos com calorias, com kilos a mais e pneus provocados por tartes calóricas... Nessa noite fomos melhores amigas, sozinhas a milhares de kilómetros de casa, amparámo-nos, apoiámo-nos, chorámos e sorrimos juntas.
Quando lhe contei que "ele" era o homem da minha vida, para ela não foi espanto nenhum... ela sempre soubera. Disse-me que nos apanhou a ambos, em alturas distintas perdidos a admirar o outro... ora a sorrir, ora de semblante triste e saudosista. Disse-me ainda que era notório que havia muita coisa a ser esclarecida entre nós, mesmo depois de termos passado a noite juntos. Isso sabia eu... não sabia era por onde começar!
Pilar confidenciou-me que ía deixar de se encontrar com o seu amigo John... Assumiu-me que se tinha apaixonado e que quando lhe disse, ele simplesmente lhe respondera que não estava preparado para assentar.. Talvez um dia, mas não agora. Conheço essa sensação...

Quando regressei ao meu quarto que me parecia cada vez mais sufocante, ao tirar o telemóvel da mala vi que tinha 3 mensagens... Uma do Rui a confirmar que conseguira arranjar dias mais cedo e que chegaria daí a 2 dias e duas "dele".... uma a perguntar se eu estava bem e outra, já mais tarde, a perguntar o que é que se passava comigo, porquê tanto silêncio... respondi somente "estou bem... quando me sentir preparada, falamos. Beijos".

Nesse momento o meu coração rebentou... Era difícil mentir-lhe, dizer-lhe que estava bem... Mas neste momento não podia tê-lo por perto, precisava de me orientar e perceber o que queria. Podia estar a cometer o meu maior erro de sempre pois nada me garantia do que ele poderia querer também... Ele podia querer algo totalmente distinto de mim, fosse positivo ou negativo. Presumi que deixá-lo na indiferença não era própriamente agradável e que por respeito a tudo o que passámos juntos, não só agora como no passado, mas eu neste momento não conseguia... Precisava de tempo, espaço e lufadas de ar fresco sentimentais e racionais.
Falar com ele ou vê-lo... senti-lo a meu lado, cheirá-lo... Nada ía ajudar...

Como me deitei na cama, nem me recordo... estava tão obcecada em arranjar soluções que nem sei como adormeci, como me despi, desmaquilhei... Caí na cama e por ali fiquei o dia seguinte. Levantei-me para receber uma pizza... Nada mais... Tinha de estar em luto sentimental umas horas para poder recompôr-me para ir buscar o Rui no dia seguinte ao aeroporto.

Na manhã seguinte, consegui acordar com uma cara decente... Nada de olheiras, nem borbulhas... algo miraculoso, depois do bem que me tinha alimentado nos ultimos 2 dias!
Vesti uns jeans e uma camisola de lã azul escura... Uma ligeira maquilhagem, uma boina, botas e mala cinzentas... Táxi até ao aeroporto!! Acho que foi a primeira vez que sorri sozinha nestes ultimos dias... Era quarta feira e o Rui ía ficar até domingo... perfeito, conseguimos conciliar os dias em que eu não iria trabalhar.

Quando cheguei ao aeroporto, o voo Tap 7328 já tinha aterrado e já estava a despachar bagagens... Foi curioso porque comecei a ficar com formigueiro nas pernas ao imaginar que ía voltar a vê-lo e a estar com ele. A última vez que estivémos juntos tinha sido há 3 anos... Irónico! Continuámos a falar assiduamente, quase que diariamente... Mas nunca conseguíamos conciliar férias, dias livres... Ou melhor... Não o quisémos fazer, seria difícil para ele e para mim, por fazê-lo sofrer com mais uma partida.

Eis que ele sai da porta de chegadas... parecia-me ainda mais bonito do que há 3 anos atrás... Camisa branca (esse meu grande calcanhar de Aquiles), jeans, sobretudo preto de gola alta e aqueles olhos azuis... Enquanto ele acelarava o passo com um riso nervoso, eu ria de forma míuda enquanto me comovia e os olhos se enchiam de lágrimas. Nem sei se ele posou a mala, se a mandou de qualquer jeito... Dei o abraço mais longo e apertado da minha vida... O cheiro dele, as mãos, uma nas costas, outra na nuca...era o Rui de sempre... comigo em NY.

Afastei-me do abraço longo e disse baixinho:

"Vem comigo... Vamos voltar a conhecer-nos nos próximos dias!"


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