quarta-feira, 28 de julho de 2010

E agora?!


Perdi-me tantas vezes em ti... No teu olhar, no conforto do teu sorriso... E se calhar, nunca o devia ter feito.
Acreditei em ti, com todas as minhas forças... não só nos teus actos para comigo, como em ti, enquanto homem... Tentei passar-te essa confiança, mas se calhar não consegui.
Procurei-te vezes sem conta quando precisei de mimo e apoio... Nem sempre o tive, mas quando tive... curaste-me todo o sofrimento.
Sonhei-te, idealizei-te tanta vez... para quê?!


E agora?!?!


Como é que vai ser? Vai ser assim? Um simples "agora não dá, depois de vê"? Sem qualquer motivo e/ou explicação?
Será que já paraste para pensar como é que eu estou?! É que para quem não gosta de me ver chorar... está a proporcionar demasiadas lágrimas neste momento!


Além do coração partido, não sei mais o que dizer acerca de como me sinto... Só queria um motivo que me fizesse entender esta atitude e que essa conversa fosse cara-a-cara! Não somos nenhuns bebés, acho que o conseguiriamos fazer.


Mas isso sou eu... e já sonhei tanto nos últimos 6 meses, que parece que agora mais do que nunca só me falta mesmo continuar a fazê-lo.


Não sei bem quando é que o meu coração se curará deste amor impossível... Mas sei que vai demorar... e muito.. =(

terça-feira, 27 de julho de 2010

Porquê?!


Eu andava triste, sim é verdade... Mas começava a sentir-me conformada que nada ía voltar a ser o que tinha sido e que nunca voltaríamos a estar como sempre estiveramos.
Mas sou teimosa que nem um calhau e acabei por voltar ao sítio dele... Na passada quinta feira! Passado um mês de falarmos de forma cordial e distante, de nunca mais termos estado realmente juntos e a passar tempo juntos, eis que lá voltei... e tudo foi como sempre. Cumplicidade, sorrisos, gargalhadas, pequenos toques e as sms habituais depois da despedida....
Para piorar tudo... Na noite seguinte tenho a deliciosa surpresa de o X me aparecer à frente, para se juntar a nós numa longa noite de folia até às 7h da manhã.
Fui tratada como raínha... Até me doiam as bochechas quando me deitei, de tanto sorrir e rir nessa noite... E para quê?!
Para me fazer mal logo a seguir... Eu estava tão quietinha, tão conformada que nada ía ser igual... que acabou por voltar tudo e agora ainda estou pior. Porque, simplesmente... o X desapareceu... já enviei sms a dizer que sinto mais uma vez o afastamento, mas não dá em nada... Ontem qual não foi o meu espanto quando me juntei com alguns amigos e um deles me diz "sim sim... eu até já ouvi da boca dele, portanto... eu já sabia há muito tempo, só queria era que tu dissesses...! Mas olha... Não vale a pena, na minha opinião!" - Pumba... mais uma vez! Alem de que eu gostava mesmo de saber então o que é que anda a ser dito de mim.. porque pelo aspecto, sou motivo de risada e chacota!
Eu só me questiono o quão parva eu continuo a ser... Não passo dum boneco nas mãos do X... que brinca e faz de mim o que mais gozo e prazer lhe dá, consoante a ocasião. Porque é que voltou a ser assim? E agora... de repente... pfff... afastamento ainda mais brutal que da outra vez.
Não há cabeça que não pare de pensar, nem coração que não se sinta completamente destroçado... e a merda do meu sentimento parece que aumenta diariamente. Eu tenho um problema grave... e esse problema chama-se "apaixonada por ele de forma louca e descontrolada".
Preciso de férias... para me distrair... =(

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O sonho - IX

Durante aqueles breves segundos onde os meus lábios tocaram os dele, pude relembrar todos os momentos, os sorrisos, a cumplicidade, as lágrimas, os momentos em que me afaguei, em que ele se afagou no passado.

Falarem-me em "borboletas estomacais" em nada se compara com o que senti das poucas vezes que o beijara na vida. Era muito forte, muito intenso... Como aliás, tudo o que se referia a ele. "Ele" era sinónimo de força, de mistério, magnetismo, poder, controlo, sexualidade, delírio da carne, ambiguidade e acima de tudo...de perfeição.

Se havia pessoa perfeita no mundo, era "ele".... "ELE"!
Quando nos afastámos e parámos de nos beijar, fiquei sem perceber muito bem se o beijo tinha sido correspondido ou não. A verdade é que ele pôs os olhos no chão e suspirou longamente... Não um suspiro de felicidade, mas sim um suspiro de preocupação.
"Desculpa. Desculpa, não sei onde tinha a cabeça" - disse eu ainda mais nervosa e totalmente arrependida.
"Shhhhiu... não digas nada. É melhor..." - Aquele "é melhor" entrou no meu peito como se fossem mil punhais. Não respondi, engoli em seco as lágrimas de raiva que começaram a querer explotar dos meus olhos. Respirei fundo, sentei-me finalmente no banco e acendi um cigarro.
"Não sabia que continuavas a fumar... Desde que estamos em NY ainda não te tinha visto fumar."
"É porque estou contigo... Já sabes que contigo não fumo."
"Então porque é que estás a fumar agora?!"
Automaticamente deixei cair o cigarro da minha mão.... O poder dele continuava em mim, entranhado no meu sangue, imposto na minha personalidade.
Ali ficámos, em silêncio durante vários minutos, eu sentada no banco, ele apoiado no varão que separava o rio da margem. Silêncio ensurdecedor que fazia com que a minha cabeça não parasse de fabricar perguntas, respostas, cenários para o que se iria passar depois.
"Vamos embora daqui." - disse ele, esticando-me a mão, de forma fria e brusca. Eu obedeci, caminhando de mão dada com ele até entrarmos num táxi.
Ele estava nervoso, irritado... Dava para sentir toda a tensão nos musculos dele, a cara comprimida, a boca fechada sem pronunciar uma unica palavra, os olhos fixos, as mãos a apertarem as minhas.
Ao entrar no táxi murmurou o nome da minha pensão e manteve-se calado todo o caminho, sempre a olhar pela janela, perdido em si, nos seus pensamentos, nele próprio.
Eu, magiquei tudo o que lhe podia dizer quando chegássemos à porta da minha pensão. Mas não conseguia chegar a uma conclusão. Eu não o devia ter beijado, era tudo o que inundava as ideias que me pareciam brilhantes... EU NÃO O DEVIA TER BEIJADO. Comecei a sentir-me nauseada devido à carga nervosa que me estava a consumir aos poucos, como rastilho embebido em gasolina, acendido na ponta.
Quando chegámos à pensão, ele não saíu do táxi.. Eu esperei uns segundos pela sua reacção, mas percebi que não ía ser nenhuma quando ele secamente me diz "Boa noite Catarina". Engoli em seco mais uma vez e retribuí, saindo do táxi sem olhar para trás.
Depois de entrar no meu quarto, sentei-me na cama e senti-me vazia. Pensei que ía chorar, mas curiosamente, nada me saíu pelos olhos... Pensei que fosse gritar, mas estava muda, pensei que fosse esmurrar alguma parede, mas as mãos não pararam de ladear o meu corpo... Deixei-me cair para trás e revi todos os segundos, momentos, frases, palavras daquela noite até chegar ao beijo. Mais uma vez, nenhuma das minhas dúvidas fora esclarecida... tal e qual como há 6 anos atrás... em que tentei várias vezes entender o que se passava entre nós, o porquê de por vezes dar-me tudo e no dia seguinte, tirar tudo... e nada foi respondido, nem há 6 anos, nem agora e pelos vistos nunca viria a ser.
Acendi as minhas velas de baunilha, liguei as colunas ao leitor de MP3 e deliciei-me com um banho de espuma. Precisava de relaxar. Assustava-me com o facto de não explodir, de não chorar, de não doer. A partir do momento em que entrara no meu quarto tinha ficado simplesmente oca e vazia, sem reagir, sem me mexer, sem raciocínio.
Vesti uma t-shirt larga ainda dos tempos em que vivera em Paris. Tinha comprado aquela t-shirt para oferecer ao Denis, aquele loiro de olhos azuis, lábios carnudos e quase dois metros de altura que eu conhecera quando a sua equipa de futebol esteve presente num evento de caridade organizado por mim no hotel em que eu trabalhava. Ele era guarda-redes dum clube pequeno em Paris que jogava na segunda divisão. Era um homem atraente, lindissimo e extremamente romântico, algo que me irritava e aborrecia profundamente. A quimica foi mutua e bastante rápida, uma vez que 3 dias depois desse evento, passei a noite em sua casa, um minúsculo T1 perto da praça da Bastille. Pensei que me pudesse apaixonar pelo Denis, devido a toda a sua meiguice e doçura, mas percebi que não no dia em que comprei a t-shirt que tinha vestido.
Tinha ido passar um fim de semana em trabalho ao Mónaco, para uma conferência enfadonha de "como organizar eventos" e comprei aquela t-shirt numa rua repleta de lojas de "souvenirs"... tamanho XXL, para lhe assentar nos ombros, devido à largura que ele tinha. Lembro-me das vezes incontáveis que ele me telefonara nesse fim de semana e das largas dezenas de sms com "Tu me manques beaucoup". Sim, tínhamos tido sexo casual (pensava eu) várias vezes, alguns jantares, um ou outro cinema, mas para mim, nada sério. Mas a verdade é que tive vontade de lhe comprar um mimo. Tal como já disse, pensei que me pudesse apaixonar... ele era de facto lindo de morrer, talvez o homem mais bonito que tive na minha vida. Logicamente que não havia muito prazer intelectual uma vez que Denis era ligeiramente acima do "básico", não me sabendo cativar ou ter uma conversa comigo que me fascinasse de o ouvir falar... mas o prazer físico era abundante e intenso o que de certa forma me fazia ficar junto dele.
Quando regressei a Paris no domingo à tarde, ele convidara-me para jantar em sua casa. Passei por casa para me preparar, vesti uma lingerie sexy, peguei na t-shirt embrulhada e segui para sua casa. Quando entrei, não virei costas e desapareci porque sou uma pessoa educada e respeitadora. A casa estava super bem decorada, com rosas vermelhas e velas por todo o lado, um cheiro agradável a incenso pairava no ar e o ambiente podia ter sido o propício a uma noite louca se a casa não estivesse cheia dos seus amigos que viram a minha cara de apavorada quando Denis disse alto ao abrir-me a porta "meus amigos... aqui está ela... a minha namorada!".
A t-shirt nunca saíu de dentro da minha mala e o Denis nunca mais me viu. Essa noite acabou as 7 horas da manhã comigo a sair daquele T1 e a nunca mais voltar, depois de lhe explicar que até podia ter dado certo...se ele tivesse esperado... Mas hoje reconheço... quanto tempo é que eu o ía fazer esperar?
Fervi àgua e fiz o meu chá favorito... cidreira e mel. O cheiro do chá envolto com o cheiro a baunilha das velas criou uma atmosfera hipnotizante no meu quarto. Encostei-me à ombreira da janela e apreciei o céu... infelizmente em NY não se nota qualquer estrela devido à imensa luz que há, mas a lua, cheia ainda por cima, não desaparecia do cimo da minha janela. Será que "ele" a estava a ver também? Ao menos, que ambos olhássemos para a lua, ao mesmo tempo... sempre acreditei ao longo destes 6 anos que sempre que vissemos a lua, nos viríamos um ao outro, onde quer que estivessemos.
Nisto, a porta do meu quarto começa a ser socada violentamente... Pousei o chá e pedi para aguardarem, mas quanto mais pedia, mais forte batiam.
Abri e era "ele"... parado, mirou-me de cima a baixo e entrou de rompante no meu quarto. Não me deu qualquer tempo de falar ou perguntar o que fosse. Agarrou-me o cabelo por trás da nuca, entrelaçando os seus dedos compridos no meu longo cabelo preto, reclinando-me ligeiramente a cabeça deixando o meu pescoço totalmente à deriva no oceano que me aguardava dentro da boca dele. Com a outra mão fechou a porta brutalmente e não me largou mais.
Beijámo-nos, tocámo-nos e ele fez de mim escrava e raínha, dependendo da sua vontade e disposição. Senti-lo dentro de mim era algo único e inexplicável. Mais uma vez, tudo naquele homem era intenso e diabolicamente viciante. As dentadas, os beijos, a respiração do meu ouvido... Foi a noite mais carnal e ao mesmo tempo doce que tive em toda a minha vida. A necessidade de beber o meu corpo, de explorar algo que houvera mudado em 6 anos, a minha loucura por aquela fonte de pecado, a minha vontade de provar todos os recantos do corpo dele... Comparar aquela noite com a que tinha feito com que nos deixassemos de falar, era totalmente cómico. A verdade é que há 6 anos atrás, apesar de míudos, já tinhamos bastante experiência, não em parceiros, mas sim em saber no que erámos bons e o que gostávamos, mas ali, naquela noite...erámos duas pessoas vividas, a conhecer e a amar o seu corpo como ninguém, sabendo muito bem o que gostavam e o que os fazia contorcer de prazer. Basicamente, aquela noite de sexo louco e desenfreado, tinha uma componente de liberdade e de à vontade que há 6 anos atrás não tinha tido. Para mim, juntava-se a componente dolorosa "amor".
Quando finalmente parámos e nos deitámos lado a lado, ele leu-me os pensamentos e puxou-me para o peito dele. Perfumado, com as medidas certas. Afagou-me e sussurrou-me "a tua t-shirt é tão verdadeira".
Pois... na verdade era! A t-shirt que nunca saíra da minha mala em Paris tinha a frase "Relations sexuelles sans engagement : celui de relations durables"....

Afinal....


Afinal parece que ainda sei sorrir... E ter vontade de sorrir!!
E parece que ainda o sei fazer... E em modo constante.
Por mais que me digam que tudo é falso, eu acredito no bom e no bem que me fazem sentir.
Para isso é que há os amigos... Para nos fazerem bem. E nesse aspecto, o X é um bom amigo!
Ahh... Finalmente, sem peso nos ombros, finalmente a sorrir e finalmente a sentir-me bem... estava a ver que não!
Posso finalmente continuar a minha história... Parece que a inspiração voltou....

domingo, 18 de julho de 2010

Balanço

Antes de continuar a escrever a minha humilde história, tive de fazer uma pausa... Especialmente porque preciso de uns dias para continuá-la porque não lhe quero dar um rumo muito vocacionado com o que ando a sentir nos últimos dias.



Ontem aconteceu-me uma coisa que há muito tempo não acontecia. Tive uma festa de anos de uma das minhas melhores amigas, jantei no Bairro Alto, comi bem, bebi o que devia uma vez que tinha o meu namorado de 4 rodas no parque, dancei, galei, conversei... Basicamente, uma noite normal e animada.

Ao vir para casa depois de deixar a aniversariante em casa, pus a tocar um CD que já há muito tempo não ouvia... E simplesmente, dei por mim a chorar!

O meu cérebro começou a fazer uma "limpeza e balanço" automáticos sem qualquer esforço ou comando meu... Foi algo necessário de ser feito.



Posso dizer que para mim, o meu ano de 2010 começou a 8 de Setembro de 2009... foi aí que este MEU ano começou... foi aí que a minha vida mudou, foi aí que voltei a ser eu e comecei a tornar-me naquilo que sou hoje.



Nos últimos 10 meses, passaram-se coisas inesquecíveis na minha vida...



  • O meu Erasmus, já aqui referido. Passei a dar muito mais valor a certas coisas, a certas pessoas e a mim, especialmente. Ganhei amigos para a vida, perdi outros que achava serem para a vida... Ganhei cor e luz dentro de mim.

  • A minha chegada em Dezembro ao Aeroporto de Lisboa, com a minha família à minha espera... Foi qualquer coisa que nunca esquecerei na minha vida.

  • Acabei o meu relacionamento de 3 anos, que eu julgava certíssimo, que eu achava eterno... Mas aprendi que nada é eterno na vida.

  • Os meus pais divorciaram-se oficialmente. Ganhei mais amor repartido.

  • Vejo os meus sobrinhos crescerem diariamente, sorrirem para mim e gritarem "Titi" a toda a hora.

  • Tive loucuras duma noite, duma tarde, dum dia... Aumentaram-me o Ego e mostraram-me que afinal tenho algum poder.

  • O jantar em Sesimbra com aquele meu casal de melhores amigos, num dia em que só me aptecia saltar do carro ao atravessar a ponte.

  • Apaixonar-me pela pessoa mais improvável de sempre... Duma forma nunca antes sentida.

  • Não ser correspondida na paixão e aprender a lidar com isso diariamente.

  • Um fim de tarde no ZOO de Lisboa.

  • As noites não planeadas.

  • As gargalhadas por aí, por ali...

  • Os olhares, tristes, sedutores, felizes, emocionados.

  • O culminar da vida académica (não significa que o curso seja acabado, mas a vida académica foi...)

  • As horas a guiar sozinha perdida dentro de mim.

  • Todas as vezes que vi o pôr do sol.. sozinha, acompanhada, com ele!

  • As obras no meu quarto.


E tantas outras coisas que podia deixar aqui escritas... Mas em vez disso, decidi escolher uma "banda sonora oficial" para o meu último ano:




  1. Use Somebody - Kings of Leon

  2. Universal Traveler - Air

  3. Quero ser feliz tambem - Natiruts

  4. Kings and Queen's - 30 Seconds to Mars

  5. Uprising - Muse

  6. Resistance - Muse

  7. Just Say Yes - Snow Patrol

  8. Open Your Eyes - Snow Patrol

  9. Wonderful - Gary Go

  10. Run - Air

  11. I Remember - deadmau5 & Kaskade

  12. We are the people - Empire of the Sun

  13. Superheroes - Daft Punk

  14. What do you want from me - Adam Lambert

  15. Staring at the sun - TV on the Radio

  16. John Legend - Everybody Knows

  17. Marble House - The Knife


Até Dezembro ainda falta um pouquinho... é de aproveitar um ano com 15 meses! E vamos ver o que ainda me espera.

terça-feira, 13 de julho de 2010

O Sonho - VIII

Ao ouvir aquela voz a pronunciar aquelas palavras, levantei-me como se tivesse uma mole forte debaixo de mim. Não me podia ir abaixo mais uma vez por causa dele, muito menos, em frente a ele.
"Desculpa... Mas não posso fazer isto. Obrigada pelo almoço, ou pela tentativa... Mas não posso. Não posso!" - Peguei na minha mala e virei costas. Os olhos ardiam-me por susterem as lágrimas, mas eu não podia rebentar ali.. Ainda estava muito perto.
"Espera Catarina... Temos que falar!" -Ouvi-o ao longe, mas nem sequer me virei... lembrei-me de quando nos deixámos de falar a primeira vez, em que o deixei a falar sozinho literalmente... Virei-lhe as costas e quando me voltei a virar para ele tinham passado 2 anos.

Corri para a pensão. No meio da multidão nova iorquina eu sentia-me sozinha, perdida e sem saber o que fazer à minha vida. Ponderei em despedir-me... Era o emprego de sonho da minha vida, mas por ele, ou melhor... por mim, deixava-o. Não ía conseguir suportar estar com ele a toda a hora e voltar aos jogos absurdos iguais ao do passado. Para ele tinha sido indiferente... casou-se, teve a vida dele, eu limitei-me a ficar agarrada ao passado... A ele, ao que senti, vivi, falei, vi, ri e chorei com ele. Estava cansada de viver infeliz, de ter perdido o meu sorriso, a minha boa disposição, a alegria contangiante que eu sempre tivera e que agora...tinha desaparecido. Estava cansada de não conseguir sorrir como antes, de me ter tornado fria, racional... De me comover pouco com o que me circundava. Tinha de o tirar da minha vida, ou fugir dele... Tinha de voltar a ser feliz e com ele por perto e a voltar a mim desta maneira, não ía conseguir.

Na segunda feira cheguei ao trabalho com 1 hora de atraso... Tinha adormecido mais uma vez sentada no chão ao lado da janela a ver a lua e quando acordei já passavam 45 minutos da hora a que devia ter acordado.
Entrei de olhos no chão e disse um bom dia quase que murmurado.
"Tía... que pasa? Hoje não vem o nosso director comercial, tu chegas dessa forma... até podia brincar e dizer que passaram o fim de semana juntos." - Olhei para ela e certamente que me denunciei - "Tu não me digas que acertei...."
"Claro que não Pilar. Já te expliquei que fomos meros colegas de faculdade e mais nada."
"Bueno... Vou continuar à espera que me queiras contar essa história. Olha, por falar nisso, já trouxeste fotos para o nosso placar? Ele já pôs as dele na sexta feira..."
Levantei-me e fui ver... e mais uma vez, entrei em desespero. Não era justo nem correcto... No meio de 6 fotos, destacavam-se duas... O meu miradouro preferido em Lisboa e o cais do Terreiro, aquele que tinha sido o nosso "pouso" durante meses a fio.
Saí do gabinete disparada, dirigi-me ao espaço exterior e liguei-lhe. Tinha de lhe dizer que não aguentava mais os jogos estúpidos e injustos. Tinha bastado o passado, não queria mais do mesmo.
"Estou?"
"Sim. Olá. Olha, hoje podemos nos encontrar? Precisamos de falar."
"Catarina, agora não me dá muito jeito falar."
"Não quero saber, se faz favor responde-me. A que horas e onde nos podemos encontrar?"
"Catarina, por favor... Eu assim que puder ligo-te, pode ser?"
"Não, não pode. É para combinar já!" - a minha voz subia de frase para frase. Ele demorou a responder...
"Catarina, não posso falar agora. Estou num gabinete de advogados a ser atendido. Logo telefono-te ok?" - e nisto, desligou-me o telefone na cara. Fiquei ainda mais enraivecida, mas a verdade é que não tinha sido muito correcta.

Passei o resto do dia a olhar para o telemóvel, de cinco em cinco minutos. Precisava de lhe dizer tudo o que estava cá dentro. Provavelmente traria assuntos de há 6 anos atrás. Foquei-me que não podia perder a coragem quando o visse, como no passado. Tinha que evitar ao máximo olhá-lo nos olhos e ir directa ao assunto.

Quando chegou a hora de sair do trabalho, o telemovel continuava sem tocar. Como era lógico ele não estava ainda no gabinete de advogados. E já agora... o que é que ele estaria a fazer num gabinete de advogados?

Ao chegar ao meu quarto, o telefone não parava de tocar. Ao atender, o recepcionista avisou-me que tinha uma pessoa à minha espera na recepção. Pousei a mala e desci. Era ele...
"Vamos jantar?" - lindo, sexy e sereno... como sempre.
"Não sei... Sinceramente não tenho fome."
"Mas temos de falar, certo? Então vamos dar uma volta..."
"Está bem... Isso pode ser."
"Traz casaco."

Subi ao quarto, mudei de roupa num ápice e voltei a descer. Ele esperava-me enquanto lia um jornal financeiro.
"Vamos?" - disse eu, secamente.
"Sim" - esboçando um sorriso - "Parece-me que vai ser a noite mais longa desde que cheguei a NY."

Saímos e começámos a andar em silêncio.
"Há algum sitio que queiras ir em especial?" - perguntou ele.
"Não. Quero um local onde possa fumar, andar e estar sem pessoas à volta para falar à vontade."
"Está bem. Então sei onde te levar."
Apanhámos um táxi e saímos perto da Ponte de Brooklyn. Era ali que íamos ficar, num daqueles bancos de jardim virados a observar a paisagem. Fazia-me lembrar a Ponte 25 de Abril e a minha adorada Lisboa...

"Catarina... o que é que se passou há 6 anos?"
"Isso queria eu que me dissesses... Depois de tantas esperanças, de tantas coisas que passámos juntos, depois da ligação que criámos afastaste-te deixando-me sem rumo."
"Tu é que te afastaste... depois daquela noite... lembraste? Eu tentei falar contigo, explicar-te o meu ponto de vista depois disso e tu nunca me deixaste. Eu não sou de brincar. Eu sei que a minha vida não era fácil mas também tenho sentimentos, sejam eles quais forem. Não me deixaste nunca falar e quando quiseste, era tarde demais."
"Mas não tinhas o direito de me ter virado as costas, de me ter deixado de falar. De deixar de me responder, de me apagar da tua vida assim."
"Foi exactamente o que já me tinhas feito a mim Catarina... Custa, não custa?!"
"Então foi por isso? Por vingança?"
"Claro que não... sei lá... se calhar sim... Não sei. Sei que estamos os dois aqui, em NY... é estranho, é revoltante e inesperado."
"Ahh... Para ti é isso tudo?! Então e para mim? Que te parece que seja?!"
"Hum... Igual?"
"Só podes estar a brincar comigo, certo? Ainda não percebeste pois não?"
"Mas perceber o quê Catarina?"
"Chegas aqui... ao fim de 6 anos. Voltas a brincar comigo... Trazes o melhor de mim ao cimo novamente. Fazes-me sorrir e chorar. Fazes-me suspirar... Merda!"
"Mas... o que é que eu ainda não entendi?" - levanta-se ele para me tentar acalmar, uma vez que eu não parava de andar em círculos.
"Que... que..... nunca te esqueci... que continuas a ser aquele.... basicamente és "o tal"! E que tu estás casado...." - entrei num choro compulsivo, misturado com náuseas motivadas pelos nervos.
"Catarina...." - começou ele a falar enquanto me abraçava - "Hoje quando me ligaste, eu estava num gabinete de advogados..."
"Sim...o que é que isso interessa?!" - interrompi eu bruscamente.
"Calma... Ouve-me. Não sei se isto ajuda e como o vais encarar... mas... eu estava a tratar do meu divórcio."

Ao fim de 6 anos, agarrei-o novamente e voltei a beijá-lo... eu, outra vez eu! Mas não consegui controlar-me....

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Sonho - VII



No sábado passei o dia na cama, com noodles e TV via internet... Precisava de ouvir falar português para me sentir mais perto de casa, como que no colo das pessoas que mo davam quando precisava. Liguei-me via Skype com o meu pai, depois com a minha mãe e por fim com a Rute... Dos meus pais, escondi tudo... da Rute, não deu para o fazer pois mesmo via camera, ela consiguia ver os meus olhos inchados de tanto chorar.

"Espera, repete lá outra vez se faz favor..."

"É mesmo isso que tu ouviste... casado!" - repeti eu no meio dum choro compulsivo.

"Estou completamente em choque... Nem sei bem o que te dizer, mas lamento não estar aí..."

"Estás aqui sim... por isso estou a falar contigo agora...."

"Então mas tu não lhe perguntaste se ela está aí também?"

"Não... só lhe perguntei se ele era feliz... Mas ela deve cá estar porque ele vai cá passar o aniversário."

"Como é que é possível tu continuares a não lhe fazeres perguntas Catarina? Vais deixar que seja como foi há 6 anos em que ainda hoje procuras respostas? É por isso mesmo que nunca o esqueceste... Porque as coisas não foram esclarecidas para poderem ser esquecidas...."

"Sei lá... só sei que estou em NY, o homem que não esqueci também, mas agora... casado!"

"Amiga...deixa-me fazer-te uma pergunta que nunca te fiz..... Tu ama-lo?"



Pois aí é que estava.... Antes de o "voltar a conhecer" depois de 2 anos sem falarmos, eu tinha tido duas relações longas, uma delas, até era practicamente casada... E nunca senti o que tinha sentido e sentia por "ele". No passado, o "amo-te" saía-me da boca quando havia real necessidade de o dizer... aqui, nunca tinha havido essa necessidade, mas havia uns sentimentos reais e arrebatadores como eu nunca tinha antes sentido. Ao fim de 6 anos, eu continuava a adormecer a pensar nele e a acordar com ele no pensamento... Durante 6 anos esforcei-me por me envolver, por me apaixonar por alguém mas nunca passou de sexo. Alguns tiveram o azar de se envolver demasiado, dando provas que todas as mulheres gostam, mas para mim não chegava... Precisava que me cativassem intelectualmente, que fossem inteligentes, seguros, donos de si, que me encorajassem, acreditassem em mim, me fizessem soltar gargalhadas e sorrisos constantes, me ouvissem, respeitassem e acima de tudo... me fizessem sentir mulher que usa e abusa de poderes carnais mas também me fizessem sentir menina, a precisar de mimo e que a afaguem e protejam... e isso, só ele conseguiu na vida.

Lembro-me que ele foi o primeiro homem na minha vida que me afagou no peito dele e mimou, dizendo "anda cá menina... que tu não estás habituada a mimos mas mereces tantos."

Ele era o único que me enchia o estomâgo de borboletas e furacões quando o via, mesmo ao fim de 6 anos... era o único que me fazia perder o apetite, mesmo ao fim de 6 anos... era o único que me fazia sorrir verdadeiramente, mesmo ao fim de 6 anos... e era o único que trazia o melhor de mim ao de cima, baixando todas as barreiras....

Se tudo isto era amor.... se calhar sim, se calhar não. Mas se era...então assim, talvez fosse amor o que eu tinha dentro de mim.



Domingo de manhã acordei com a necessidade de tomar uma decisão e alugar a minha casa. Estava cansada de viver numa pensão e precisava de fazer alguma coisa. Levantei-me da cama cedo, tomei um duche longo, para lavar também a alma, vesti uns jeans banais, uma t-shirt branca, ténis e um casaco de malha rosa velho que a minha madrinha me tinha feito antes de vir para NY. Óculos de sol, fiéis amigos e saí...

Parei para comprar 3 jornais de classificados e fui até ao Starbuck's perto do hotel para tomar o pequeno almoço. Estava carente, precisava de açucar... Deliciei-me com o meu preferido "Blueberry Muffin" e com um frappuccino de baunilha. À saída trouxe um café grande para me ajudar a concentrar na busca da casa perfeita.
Quando saí do café deparei-me com um sol radiante, brihante e dourado a pairar sobre Central Park... Como que hipnotizada dirigi-me para uma das muitas espreguiçadeiras que por ali estão dispostas.
Percorri aqueles jornais durante horas a fio, assinalando com um marcador colorido as que me pareciam melhores, para entrar em contacto e ir vê-las.
Para descansar a vista, recostei-me na cadeira e comecei a observar o mundo à minha volta... Casais apaixonados, mães solteiras, famílias... como é que numa cidade como NY consegue haver momentos tão pacatos e relaxantes....
"Continuas a gostar de observar as pessoas?" - Ali estava ele, mais uma vez.... Com o sol por trás, parecia um anjo....
"Olá... Coincidência ver-te aqui."
"Vim ao Starbuck's e parece que tu também. Mas, não me respondeste..."
"Hum... Sim, continuo a gostar de as observar... Velhos hábitos. Então e sozinho por aqui num domingo?"
"É...parece que sim. E tu, sozinha?" - Mais uma vez não respondia como passava a pergunta para mim....
"Sim... hoje estava numa tarefa solitária."
"Ai sim?! Então? Pode-se saber o que era?"
"Estou à procura de casa... estou cansada de estar num sítio que não tem a minha cara nem o meu cheiro."
"Óptima ideia. Fazes muito bem, mas não me parece que o devas fazer sozinha..."
"Hábitos que a vida me trouxe....!"
"Então e se fossemos comer alguma coisa para me mostrares as casas que te parecem melhor?"
Naquele momento não pude deixar de sorrir... e quando o fiz, ele sorriu também. Aquele míudo de outrora estava realmente feito um homem... cortês, simpático, bonito... Era óbvio que a Emma se tinha apaixonado por ele. Aliás, várias as mulheres se devem ter apaixonado ao longo destes 6 anos.
"Parece-me uma boa ideia, se bem que este sol de domingo está a carregar-me baterias..."
"Então deixa-te estar que eu tenho uma ideia..."

Nisto, virou-me costas e desapareceu num ápice no meio das pessoas...ao voltar uma meia hora depois, trazia dois sacos de papel grandes, um em cada braço. Começou a sorrir vitorioso ao longe e eu comecei-me a rir a vê-lo todo atrapalhado a desviar-se de 2 irmãos que corriam como loucos no parque...

"Cata... Vamos fazer um pic-nic!" - não podia acreditar que estava a ouvir aquilo.... - "escolhe um lugar que queiras, anda!"
Caminhámos sobre o parque, com ele a carregar os sacos e eu à frente, a procurar uma sombra agradável. Deparei-me com uma árvore sem ninguém... era quase um oásis naquele domingo. Fiz sinal com a cabeça e ele concordou.
Quando nos sentámos ele mandou fechar os olhos enquanto tirava tudo dos sacos...
"Já podes..." - quando abri os olhos foi impossível as lágrimas quentes não se misturarem com o riso nervoso... Pastéis de bacalhau, pastéis de nata, azeitonas, uma caixinha de arroz de pato, uma caixinha de bacalhau à brás, pão alentejano, queijo e uma garrafa de Monte Velho tinto...
"Onde é que arranjaste isto tudo?!"
"Há um mini mercado de emigrantes portugueses aqui por trás do hotel. Foi um senhor da manutenção que me disse. Fazem comida para fora. Calculei que não soubesses..."


Não deixei o cérebro pensar e abracei-me a ele... ao fim de 6 anos sentia aquele corpo colado ao meu outra vez, o cheiro, o respirar no meu ouvido, o cabelo encaracolado, as mãos grandes nas minhas costas....


"Porque é que isto está a acontecer outra vez?" - Murmurei eu no ouvido dele....
"Porque nunca devíamos nos ter deixado de dar...."

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Sonho - VI


Depois daquela informação adquirida, tentei ao máximo pôr o meu sorriso mais natural como se aquilo fosse a coisa mais banal do mundo (que na verdade, era...) e mostrar-lhe que estava feliz por ele...
"Que bom! Fico contente por ti..." - A voz tremia-me...
"Bom... é a lei natural da vida não é?! Então mas e tu, solteira? Posso perguntar porquê?"
"Sei lá... Não são coisas que nos possamos obrigar a fazer não é? Na verdade, não voltei a ter uma relação "séria" desde que saímos da faculdade... Tenho vivido somente para a carreira. Não houve ninguém que me fizesse apaixonar, perder a cabeça, que me fizesse sentir bem como...." - Calei-me a tempo... ía-me saíndo "tu..."! Ele olhou para mim e rapidamente desviou o olhar com aquele ar misterioso dele... sabia exactamente o que me ía sair da boca. - "Mas então e tu? Casaste-te com a tua namorada da altura?"
"Não... Quando fui para Madrid as coisas começaram a ficar difíceis. Nem sempre era fácil ir a casa, a distância deu origem a cíumes e depois a distanciamento. Quando me mudei para a Suiça, não deu para aguentar mais. As coisas estavam saturadas. Foi aí que conheci a Emma. Eu estava sozinho, encontrei uma pessoa com quem passava muito tempo, que me deu o que eu precisava naquele momento e pronto... foi tudo muito rápido. Em 6 meses casámos."
"E és feliz?" - saíu-me disparado como uma flecha... Nestes 6 anos era algo que quando me lembrava dele, me questionava sempre... será que ele era feliz? Era curioso as coisas terem ficado como ficaram e eu continuar a querer mais do que tudo no mundo a felicidade dele.
"Sabes Catarina, aprendi nestes 6 anos que a felicidade é algo relativo. O que para mim pode ser estar feliz, para ti pode não ser. Mas posso te dizer que tenho tido bons e maus momentos nos últimos anos. Não fui a melhor pessoa em certas ocasiões, mas noutras fui e tenho orgulho nisso. Só quero ter a minha vida calma e organizada, dia-a-dia. Não espero a felicidade extrema, mas espero continuar a ter momentos em que me sinta bem, feliz e realizado e esses vou tendo de vez em quando. Até nem me posso queixar muito... E tu, és feliz?"
"Não... Não sou. Há muito tempo que deixei de saber o que isso é!"
"Mas tens a carreira com que sempre sonhaste... Isso já é alguma coisa."
"Sim.. é! Mas não ter com quem partilhar as vitórias nem com quem idealizar um futuro, chega a uma fase que é demasiado doloroso. E quando se chega aos 30 assim.. é complicado."
"Pois é... já és trintona" - brincou ele, fugindo subtilmente ao assunto.. não tinha mesmo perdido os velhos hábitos. - "Como é que é ter 30 anos?"
"Óptimo... atendendo a que tenho dinheiro para tratar de mim..." - rimos os dois alto... Mais alto do que tínhamos vontade mas serviu para afastar aquela conversa que nos estava claramente a deprimir. - "Mas a ti faltam-te poucos meses para saberes também como é. Aliás... durante um mês e pouco, estaremos no mesmo patamar."
"É verdade... vou celebrar os meus 30 anos em NY... Tem de ser memorável!"
"Pensei que fosses a casa...."
"Casa?! Aparentemente agora é aqui..."
Fiquei um bocado confusa com aquela frase uma vez que esperava que ele fosse a casa, ter com a família e com a mulher para celebrar aquele patamar importante na vida duma pessoa... 30 anos.

Depois de termos dividido a conta (eramos os dois demasiado orgulhosos para deixar o outro pagar o jantar) caminhámos calmamente pelas ruas de NY, recordando episódios engraçados do tempo de faculdade. Ele fez questão de me acompanhar até à pensão onde estava hospedada. Fiquei sem saber onde é que ele estava, se já tinha casa, se estava no hotel... mas na verdade, melhor assim. Não queria saber muito sobre ele, para não voltar a cair no mesmo erro de há 6 anos atrás.
No caminho comecei a encolher-me com frio e ele ofereceu-me o casaco ao qual eu recusei.. Não queria o cheiro dele na minha roupa, porque o meu quarto actual era demasiado pequeno e eu não ía suportar a ideia de ter o aquele odor mágico por todo o quarto. Mas havia algo que ele não tinha mudado... a teimosia. Deicidiu então pôr-me o braço por cima e afagar-me nele enquanto andavámos.. eu balbuciei "Obrigada, mas não me dá jeito..." - "Psstt... Cala-te!" - voltámos a rir os dois com vontade relembrando o passado mais uma vez.

Em menos de 10 minutos estava eu já no meu quarto a rever a noite, passo por passo, sorriso por sorriso, olhar por olhar... ele estava casado... CASADO! Mas porquê é que o destino brincava assim tanto comigo? Passados 6 anos sem o esquecer, ele volta a aparecer, mas agora... casado! Quem toma conta de mim "lá em cima" devía ter um plano muito macabro para mim... só podia. Enquanto estava perdida nos meus pensamentos, recebi um SMS... certamente seria a minha mãe a desejar-me boa noite. Quando abri o telemóvel, li o texto:
"Não sei se esta noite terá sido uma boa ideia, mas apesar disso quero que saibas que nestes 6 anos sempre que me lembrei de ti, lembrei-me do teu sorriso e acabei sempre por sorrir também. Boa noite."

Sentei-me no chão do quarto, junto à janela e explodi... chorei toda a noite... sem parar... e adormeci assim mesmo, naquele canto... A sorte é que tinha dois dias até voltar a vê-lo!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Sonho - V


Naquele momento ele pareceu adivinhar o que me passava na cabeça... Apertou o meu braço contra ele e perguntou-me o que se passava. "Nada" - disse eu a culpar-me por ter dado nas vistas.
Aproveitei e soltei o meu braço do braço dele.
"Foi impressão minha ou estavas a sorrir sozinha?"
"Foi impressão tua, claro!"
Naquele momento começamos os dois a rir... mais uma vez ele tinha conseguido entrar na minha mente. Continuava astuto!
Caminhámos mais uns largos metros a falar de trivialidades acerca de NY. Realmente era tudo aquilo que ambos esperávamos e tinhamos visto em filmes. Aí fiquei a saber que ao contrário de mim, ele já lá estivera duas vezes em férias.
Chegámos a um edíficio grande mas estreito. Era ali que ficava o restaurante, mas eu não via onde! Abriu-me a porta para eu passar, entrámos no prédio e dirigimo-nos aos elevadores. Era fabuloso como os elevadores nesta cidade eram tão rápidos.
Quando dei por mim estava no 82º andar... Era ali o restaurante. Entrámos numa porta banalissima, como se estivessemos a entrar numa casa particular.
Fomos recebidos por um latino-americano extremamente profissional. Falava-nos com uma mão atrás das costas e acabava e começava as frases sempre com "sim senhor, claro senhor, à sua disposição". A sala estava decorada como a sala de uma casa normal. Tinha 3 sofás em veludo preto, com um tapete branco no centro, uma lareira num canto, uma cristaleira e uma mesa de revistas.
"Ele", como o seu inglês perfeito comunicou que tinha uma reserva e encaminharam-nos à porta que nos conduzia à sala de refeições. Era a porta da varanda... Eu já sorria... já estava a antever o que aí vinha.
Quando nos abriu a porta, não pude deixar de parar e começar a rir sozinha... era das coisas mais bonitas que tinha visto em toda a minha vida. O último andar do prédio, com uma vista soberba sobre o Central Park e NY.
Tinha luzes pequenas e amarelas penduradas por todo o lado, na varanda, tochas acesas. Havia mesas e cadeiras normais e nos recantos com as melhores vistas, mesas baixas, com pequenos puffs de verga... lembravam-me o que eu tinha no meu quarto em casa, Lisboa!
A varanda era de vidro, deixando assim ver a paisagem na totalidade. Era algo único, aquela conjugação de côres, luzes das ruas misturadas com as luzes dos carros sempre em movimento. A única luz estática era a da lua... que já tinha chegado ao céu e estava cheia bem iluminada.
De repente reparei que estava estática na ombreira da porta enquanto que "ele" e o empregado estavam afastados a olhar para mim e à minha espera para se dirigirem à mesa. "Ele" tinha um sorriso na cara... dava para ver que estava contente por me ter surpreendido.
O empregado dirigiu-nos a uma das mesas baixas. Tinha velas na mesa, duas vermelhas e uma branca. Guardanapos de pano vermelhos e copos de vidro grosso. Os talheres eram grandes e pesados e estavam muito bem polidos. Estavamos num canto da varanda, virados para o centro do mundo... NY!
Quando nos sentámos "ele" respeitou a necessidade que eu tive em contemplar aquilo tudo... O meu coração transbordava de sentimentos... Saudade, mágoa, nostalgia, melancolía, raiva, paixão... eu sabia que jantar com "ele" ía ser complicado, mas assim... ía ser ainda pior!
"Então Cosmo... surpreendida?!"
"Bom... na verdade nem por isso!" - Brinquei eu, pondo um ar de superioridade notório para nos podermos rir os dois.
"Vá... de nada!" - aquela frase caíra como uma bomba... Baixei o olhar porque os meus olhos encheram-se de água. Aquela frase tão típica, tão usada há 6 anos atrás tinha sido a gota que tinha feito a taça transbordar. - "Hey... então?" - perguntou ele meio surpreso.
"Não sei que te dizer... mas realmente, obrigada parece-me o melhor neste momento!" - e deixei cair algumas lágrimas enquanto sorria ao mesmo tempo. "Ele" sorriu duma forma paternal, limpou-me a cara e gracejou - "Olha a maquilhagem... Estamos em NY, sei que se pode andar de qualquer forma, mas uma directora de eventos tem de estar sempre no seu melhor." - ri-me enquanto ele sorria vitorioso por ver-me acalmar. Pedi licença e levantei-me. Precisava de me acalmar.
Quando entrei no WC fiquei muito tempo parada em frente ao espelho. No reflexo do mesmo, vi-me a mim 6 anos antes... cabelo mais curto, mais kilos, roupa normal sem grandes luxos. Actualmente eu era uma mulher que vivia muito para a imagem. Tinha horas marcadas para tudo.... manicure, pedicure, cabeleireiro, limpeza de pele... TUDO em mim era "lapidado" com alguma frequência. O mais engraçado é que há 6 anos atrás, eu era simplesmente... EU! Era mais feliz do que actualmente, mais divertida, mais brincalhona. Trabalhar fora e sozinha tinha-me feito uma pessoa desligada, distante e até mesmo fria, coisas que eu sempre criticara... até há 6 anos atrás. Já não me lembrava do que era estar nervosa num jantar, de perder o apetite quase com vómitos por causa da presença de alguém, de sorrir sem motivo aparente e muito menos... de me sentir a transbordar alegria por todos os poros. Os saltos altos eram nulos... eu estava a flutuar e não precisava deles para nada. "Ele" tinha conseguido trazer o melhor de mim ao de cima... mais uma vez!
"Escolhi o vinho, espero que não te importes." - WOW... eu estava cada vez mais boquiaberta... será que eu sempre que voltava a falar com este homem, ele tinha mudado assim tanto?! Sim... já tinhamos passado uma temporada sem falarmos... durante o tempo de faculdade. Tonterias de crianças, que misturadas com alcóol têm um desfecho infeliz. Foi depois dessa altura que quando voltámos a ser amigos, as coisas enverdaram pelo caminho errado.
"Não, não me importo... só espero é que o tenhas sabido fazer." - lá estava eu... a atacá-lo como sempre fizera. Não o fazia por maldade e ele sabia-o. Era uma forma de darmos luta um ao outro e de "quebrar o gelo".
Depois de lermos a ementa cuidadosamente e de fazermos o pedido, comecei a recear como é que a noite ía decorrer. Se por um lado queria muito esclarecer tudo o que se passara há 6 anos atrás, comecei a perder a vontade de o fazer naquela noite... que estava a correr tão bem.
"Então conta-me Catarina.. Como é que vieste aqui parar?"
"Bom.. presumo que no dia que entrámos tenhas ouvido o meu percurso profissional até agora..."
"Nem por isso, não dei importância..." - brincou ele... - "Claro que ouvi... parabéns! Os teus 2 grandes sonhos estão concretizados."
"Sim.. é verdade. Não posso negar que foi duro chegar aqui, mas... consegui. Batalhei muito e surtiu algum efeito."
"Nunca tive dúvidas que conseguirias... sabes disso." - mais uma vez, engoli em seco e baixei o olhar.. as coisas invadiam a minha cabeça sonicamente... Lembrei-me duma tarde no meu miradouro preferido de Lisboa... quando eu achava que o meu carro não ia caber em determinado lugar de estacionamento e em que ele me disse "Cabe... tenta lá!" e a verdade é que coube... quando saímos do carro ele disse "Eu disse-te... acredito em ti e no que fazes."
"Obrigada. Mas nem sempre foi fácil, mas tu deves saber... andar a trabalhar fora do nosso país não é fácil. Tem coisas giras e únicas, mas momentos duros e dolorosos."
"Sim, é verdade. Tens razão. Mas já sabíamos disso... Erasmus ajudou a abrir os olhos quanto a isso."
Quando chegaram os pratos principais, a conversa continuou... Como tinhamos ido parar ao estrangeiro, situações divertidas, dolorosas e por aí fora.
"Os teus sobrinhos estão enormes e bonitos. Deves estar muito orgulhosa."
"São o amor da minha vida... é complicado estar longe deles, mas tentei sempre vê-los uma vez por mês. Estando a trabalhar na Europa é mais fácil ir a casa."
"Claro, as low-cost são fabulosas." - Os silêncios de pergunta para pergunta eram cada vez mais longos... - "Então e... filhos teus?"
"Não... nem filhos, nem maridos, nem namorados... Casei-me com a carreira." - sorrimos os dois, mas de forma vazia.... "Então e tu?"
"Bom eu... casei-me."
O meu mundo acabara de desabar... estava a beber um golo dum estupendo Cabernet Sauvignon ao som de Air, quando ouvira aquilo que menos queria ouvir...
"Ele" estava comigo em NY, num sitio mágico a viver algo que tínhamos falado várias vezes no passado... Mas se antes fora díficil... agora... ele estava casado!

terça-feira, 6 de julho de 2010

O Sonho - IV

Algumas das coisas boas que tinha aprendido nestes 6 anos era a controlar-me, a conseguir ser ligeiramente racional e fria. Para mim era um ganho fenomenal, acreditem.

Quando abri aquele email o meu estomâgo contorceu-se em mil voltas. A verdade é que já estavamos em NY practicamente há 4 semanas e ainda não tinha havido nenhuma conversa entre nós, somente coisas banais e básicas, como o preço das coisas, a qualidade da comida e essencialmente trabalho.
Daquilo que o conhecia, não podia deixar de estar totalmente surpresa... Tal como tinha dito à Rute, para estar com ele um dia, teria de ser eu a convidar e tinha 98% de certeza que ía ser recusado. "Ele" era uma pessoa rancorosa, distante, fria e extremamente racional. Se não nos falávamos há 6 anos, não esperava qualquer tipo de aproximação.

"Obrigada Sr. Director Comercial, mas para hoje já tenho planos." - a verdade é que não tinha, mas não queria que ele pensasse que eu queria estar com ele. Queria que ele pensasse que para mim, era-me indiferente a presença dele ali. Indiferente relativamente ao passado, porque queria que ele sentisse que eu estava feliz por ele, não queria era reprecursões ao passado. Não sei como foi a reacção dele quando leu a minha resposta, mas saíu primeiro que eu e limitou-se a dizer um "até amanhã" seco a mim e a Pilar.
Nesse momento, lembrei-me e foi a minha vez de desafiar Pilar para uma cerveja. Pobre mulher, desde que me conhecera que me convidava e eu sempre recusei. Hoje precisava de me rir e de estar com uma pessoa que podia vir a ser uma amiga.

Encaminhámo-nos para um bar em Soho... O bairro da moda desde sempre em NY. Mantinha-se esse "cliché" e a verdade é que era de sonho. Montras de Jimmy Choo, GAP, YSL... era de uma mulher ficar com dores de cabeça só de fixar as montras coloridas e iluminadas. As pessoas que por ali se passeiam são bonitas, elas de elegantes saltos altos, eles com roupa cara e fashion. Era tão fácil ser feliz em NY...
Entrámos no WonderBar. Pilar conheceu este bar com o seu amigo "sem compromisso" John. Americano de raízes italianas, lindo de morrer. Moreno, alto, barba, olhos negros e penetrantes, boca delineada e corpo de modelo. Eram felizes assim... Saíam para jantar, para dançar e de vez em quando passavam a noite juntos. Ambos pensavam inteiramente na carreira e era isso que queriam manter. A mim, este tipo de relação fazia-me "cócegas" no cérebro... como é possível não se apaixonarem?!

"Então, mas conta-me lá... o que é que se passou entre ti e o nosso director comercial no passado?"
Engasguei-me automaticamente com o meu Grasshopper.
"Hum... Porque me perguntas isso?"
"Ora.. está mais do que na cara Catarina. A maneira como vocês olham um para o outro denuncia aí qualquer coisa. E aliás, o facto de fugires dele, ainda mais."
"Fomos colegas de faculdade...só isso!"
"Só isso?! Mulher... a mim não me enganas tu, mas vou esperar para que me queiras contar a história. Mas olha, dou-te um conselho... se nunca se passou nada, é bom que faças por passar, porque ele é bem giro. E tem uma forma de te olhar que até a mim me arrepia."
Acabámos as duas a rir alto com aquela sua forma tão espanhola de falar, graciosa e divertida.

Quando cheguei a casa liguei à Rute... Precisava de lhe contar as novidades chocantes do dia. Ao contrário do que esperava, ela não ficara chocada:
"Estava a ver que nunca mais te convidava para jantar!"
"Então mas tu achavas que ele o ía fazer?"
"Sempre te disse que também não estava a ser fácil para ele... E também sempre te disse que achava que essa história não estava acabada!"
"Neste momento estou arrependida de não ter aceite o convite..."
"Não estejas... mas prepara-te que agora és tu a ter de convidar."

Esperei 3 dias até fazer o convite... Não, não estava a fazer charme... estava mesmo a criar coragem. Escolhi uma sexta feira porque saímos sempre por volta das 5 horas do hotel e assim tinha tempo de ir à pensão mudar de roupa.
Foi um completo dilema escolher o que vestir.. não queria ir demasiado arranjada, mas também não queria ir demasiado formal.
Acabei por escolher uns jeans direitos, com uma blusa acetinada, bem decotada, cinzenta e azul escura, finalizando com uns belos saltos altos cinzentos com "mini-mala" a condizer.
Tinhamos combinado no Starbucks perto do hotel às 7 horas. Estava a chegar o Outono... ainda se podia andar de roupa fresca, mas a noite pedia já um ligeiro abrigo.
Quando o vi, sei de antemão que ele reconheceu o meu olhar embora há muito tempo não o visse. Jeans, camisa preta e um casaco cinzento... Nem muito formal, nem muito descontraído... estava aquilo que os nova iorquinos chamavam de "casual chic". Lindo e sexy, resumidamente!
A verdade é que ambos estavamos diferentes. Os 6 anos tinham passado por nós duma forma fabulosa. Quem nos visse a passear lado a lado naquelas ruas de NY sabia que erámos pessoas de negócios concretizadas, que tinham lutado para estar ali, com uma boa qualidade de vida e uma carreira promissora.

"Olá Sr. Director Comercial" - Não pude deixar de sorrir com vontade... era bom estar ali!
"Sra. Directora de Eventos, como está?!" - era bom vê-lo brincar comigo. - "Vamos? Temos reserva para as 8h30 num sítio que vais gostar."
Isto lembrou-me as vezes que ele me chamara cosmopolita... as vezes que tinhamos discutido por causa disso. Mas sim, estava na altura dele se ter tornado cosmopolita também. Perguntou-me se eu aguentava os saltos altos para andar um pouco... rimos os dois antes da minha resposta... "Sim, acho que sim... sabes que as mulheres cosmopolitas andam sempre de táxi, mas vamos tentar!" - nesse momento, foi a primeira vez que nos olhámos nos olhos ao fim de 6 anos... aquela nossa forma de olhar, aquela nossa cumplicidade, aquela nossa ligação especial...
Ele encaminhou-me para o restaurante, através do Central Park... Basicamente, tínhamos 1 hora para passear por ali, até chegar ao Don Guiseppe, um dos restaurantes italianos mais famosos de NY.

A verdade é que tive de me agarrar a ele passados uns largos minutos. O chão irregular estava a começar a fazer com que eu ficasse para trás... Pedi-lhe desculpa e dei-lhe o braço. Nesse momento, olhei em frente, no horizonte... O céu estava vermelho, com reflexos laranjas, amarelos e pinceladas de roxo... O sol escondia-se por detrás dos prédios altos e robustos da cidade. Começava a ver-se a lua, cheia, a aparecer discretamente, de uma cor ocre. As árvores dançavam subtilmente com o vento fraco. Era um espectaculo divino, ver os raios de sol a perfurarem os espaços vazios entre os prédios, iluminando as folhas do Central Park, deixando-as douradas.

Não podia acreditar... ao fim de 6 anos, voltava a ver um pôr do sol com "ele", mas agora... em NY!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Sonho - III

Quando cheguei ao Hotel, ainda tinha tempo para ir beber um café... Era raro encontrar um expresso de qualidade que lembrasse uma "bica" portuguesa embora eu já estivesse habituada devido aos anos fora do meu país. A sorte é que no bar de pessoal havia uma máquina de café italiana... A invenção de cafés de "pastilha" tinha sido brilhante.
Depois de mais uma noite em branco, uma dose grande e forte de cafeína parecia-me o mais acertado.
Quando entrei na sala, acenei aos colaboradores e dirigi-me à dita maquina.
"Bom dia" - ouvi eu, atrás de mim... era "ele". Aparência cuidada, nó de gravata perfeito... será que já o sabia fazer sozinho? Botões de punho e sapatos engraxados... como "ele" estava crescido e bonito. Também tinha chegado mais cedo. Os hábitos mantinham-se como há 6 anos atrás... jornal gratuito debaixo do braço!
Tirei o café e dei-lho, agradeceu com um sorriso cordial e profissional e foi-se sentar a ler o jornal. Eu virei-me muito depressa, já a suar por todo o lado e a ensaiar como meter conversa... "então, estás a gostar de Ny?!" - Não.. pergunta básica... "então, já com saudades de casa?!" - Não.. pergunta demasiado íntima... "então, é a primeira vez que estás em NY?!"...
Acabei por não perguntar nada. O Sr. Park tinha vindo à nossa procura para nos levar ao nosso novo gabinete.
"Bom dia! Como estão? Já recuperaram as horas de sono?" - Ui... é o que eu tenho feito mais... dormir!
"É tudo um processo de habituação." - respondeu "ele", com a sua frieza e racionalidade típicas. O seu nível de inglês estava agora perfeito e dava prazer ouvi-lo falar.
Depois deste pequeno "quebra-gelo" o Sr. Park começou então a conduzir-nos para o gabinete. De repente, entrei em pânico... As cadeias americanas de hotelaria tinham a ideologia de não fazer distinção entre directores e trabalhadores, pondo todos a trabalhar no mesmo espaço. Os directores, regra geral trabalhavam juntos, ou seja, os departamentos que poderiam ter algo a ver uns com os outros funcionavam em equipa... Ora, departamento de eventos e departamento comercial estão intimamente interligados.
Quando dei por mim, já estava à porta da sala de trabalho... e claro, mais uma vez não me tinha enganado; íamos mesmo trabalhar na mesma sala.
À entrada estava Pilar para nos ajudar a acomodar. Também ela trabalhava nesta sala, juntando assim eventos, comercial e marketing. Na verdade,tinha toda a lógica uma vez que são 3 departamentos que necessitam uns dos outros para sobreviver.
"Venham, vou levar-vos ao nosso espacinho!" - tive uma réstia de esperança de que não fosse ficar mesmo perto dele... Mais uma vez, enganei-me, claro!
Qual não foi o meu espanto quando entro numa pequena sala, do género aquário, com três secretárias, uma em cada canto da sala, todas viradas para o centro. No canto que sobrava havia uma máquina de café, um quadro de corticite com imagens de Espanha e várias plantas. Pilar pediu que levassemos fotos dos nossos sítios preferidos em Portugal. A ideia dela era que já que não estavamos no nosso país, ao menos que tivessemos imagens dos sítios que nos faziam bem. Naquele momento, decidi automaticamente que fotografias levar... Não era díficil!
Uma das mesas era de frente para a mesa da Pilar e a outra para o tal cantinho dos países. "Ele" deu-me a honra de escolher, sendo que escolhi a de frente para a Pilar. Seria bom poder ter um olhar para buscar conforto de vez em quando e já que erámos duas mulheres, certamente que nos íamos entender.
Assim que me sentei, puxei da minha mala a moldura com a foto dos meus três sobrinhos: Samuel, Laura e Simão. Antes de sair de Portugal, peguei neles e fui ter com os meus Rucas para tirar uma foto dos meus meninos juntos. Queria-os a olhar para mim, a terem orgulho na tia e era uma forma de matar saudades diariamente e de ter força quando algo corresse mal. Aqueles três sorrisos deliciosos e rechonchudos enchiam-me o coração.
Era uma sensação estranha, estar a trabalhar e saber que ele estava ali... a menos de 3 metros de mim. Se parasse e me abstraísse, quase que o podia ouvir respirar, como noutras alturas...
Dei por mim a pensar naquela noite, no cais dos barcos em Lisboa, em que ficámos dentro do meu carro até às 4h30 da manhã de um dia da semana. Tinha sido uma noite especial e diferente, em que para mim, era suposto a passarmos juntos... mas a vida dele não permitia! Eu não passava da amiga com quem se partilhava tudo e somente isso. A verdade é que depois de ter chorado muito nessa noite, não consegui deixá-lo sozinho... fui ter com ele àquele sítio onde já tinhamos passado muita coisa, onde já tinhamos segredado tanto coisa... basicamente, aquele era o nosso sítio.
Só o facto de termos estado em silêncio, abraçados e a partilhar chocolate, tinha feito dessa noite uma das mais especiais.
No fim do dia, a Pilar convidou-nos aos 2 para irmos beber uma cerveja a um bar perto do hotel. Nenhum aceitou.. eu precisava mesmo de dormir, uma vez que as duas últimas noites tinham sido longas e ele, certamente que não queria confianças. Já o conhecia....
Essa noite foi proveitosa. Pelo caminho comprei comida chinesa e comi quando cheguei ao quarto. Esse pequeno cliché também já podia ser riscado da "To do List". Falei com a família e enfiei-me na cama. Precisava de dormir e limpar o cérebro o mais que pudesse para poder começar a trabalhar em condições.
Uns dias mais tarde, estava eu concentradissíma no meu trabalho quando oiço:
"O Samuel está enorme... e a Laura linda. Tiveram um terceiro entretanto?" - Meu Deus.. ele lembrava-se dos meus sobrinhos! Naquele momento, só me apteceu pedir-lhe para irmos beber um café e falar horas a fio das nossas vidas nos últimos 6 anos.
Com a garganta em nós respondi: "Sim... são eles que me põe velha... mas o outro é o Simão. É meu sobrinho, mas não da minha irmã."
"Ahh.. é da parte do teu marido!" - aquilo saiu-lhe assim muito de repente mas foi o suficiente para me fazer entrar no dominio da conversa.
"Não... por acaso não. É filho do Ruben e da Rute."
"Que engraçado... realmente vendo bem é parecido com eles. Não sabia que vocês se continuavam a dar, mas... faz sentido!"
"Pois... Há muita coisa da minha vida que tu não fazes ideia!" - Pronto... a boca fugiu-me para a saída directa do coração. Agora é que já estava tudo estragado.
"Sim... é verdade. Devíamos jantar um dia destes, afinal, estamos os dois em NY e devíamos nos apoiar um no outro não?! É que já começo a enjoar de comida chinesa."
Rimos os dois cumplicemente... Aqueles breves segundos pareciam duma outra era, nem parecia que não nos falávamos há 6 anos e da maneira que tinha sido.
A verdade é que aquele convite para jantar me parecia totalmente "Politicamente correcto", mas mesmo assim, conhecendo-o como conhecia, não podia deixar de me espantar.
Quando ele se afastou, Pilar olhava para mim e sorria de forma maliciosa, como quem esperava que eu lhe contasse alguma coisa. Senti-me corar, algo raro e quase que inédito em mim.
Nesse dia, olhámo-nos ainda algumas vezes e sorrimos... Parecia as salas de aula da nossa faculdade... Pontas opostas, mas olhares em linha recta!
Pouco antes do final do dia, a minha caixa de correio acendeu... Era um email do Director Comercial:
"O tal jantar... pode ser hoje?!"

domingo, 4 de julho de 2010

O sonho - Chapter II

Depois daquele momento constrangedor, sentámo-nos finalmente e começámos a reunião de apresentação. O Sr. Park quis que todos os presentes falassem um pouco da sua vida profissional até então, não só eu e "ele", mas todos os que estavam na sala. Para ele era uma forma de nos conhecermos melhor. Para mim, foi o maior pesadelo... Eu que tinha chegado cheia de confiança e moral, agora sentia-me como se estivesse no 10º ano... Só pensava se tinha a maquilhagem impecável, se a camisa não estava amarrotada, se as unhas tinham o verniz bem espalhado... Até a beber água a entornei... Precisava urgentemente de me acalmar...
Começaram pela ponta oposta, o que fazia com que "ele" falasse primeiro que eu... Óptimo! Assim tinha tempo de me acalmar... As mãos suadas começaram a secar, finalmente.
O Sr. Park fez as honras da casa e começou a contar-nos a fantástica história da sua vida.... Realmente, era um homem que reflectia a sua sabedoria e conhecimento em todas as rugas da sua testa, todas as horas de trabalho nas rugas dos olhos e todas as vitórias em cada cabelo branco. Era fácil ouvi-lo falar. Lembrava-me o meu avô, quando passava horas a repetir-me as histórias que eu ouvira milhares de vezes na minha vida, mas em todas elas, eu sentia que era a primeira vez que as ouvia...
Segui-se o director financeiro... Um japonês. Nem simpático nem austéro, profissional, racional, com mãos pequenas e unhas roídas. Homem de 40 e poucos anos, gravata fora de moda mas altamente focado na realização de projectos.
Até que chegou a vez de ser "ele" a falar... Levantou-se, fechou os dois primeiros botões do casaco e começou a falar.
"Bom, como já sabem, eu sou o novo director comercial. Sou português." - Quando ele disse aquela ultima frase, sorri e olhei para ele... ele retribuíu o sorriso. Aquele orgulho do nosso cantinho especial à beira mar plantado. E depois, lá seguiu com a pequena descrição da sua vida profissional - "Comecei a minha carreia em Lisboa, numa cadeia espanhola onde já tinha estagiado, no departamento comercial. Daí, segui para Madrid onde estive 6 meses e depois Suiça, onde tirei um Mestrado e trabalhei ao mesmo tempo, também no departamento comercial mas com ligação ao departamento de eventos num hotel americano. Ao fim desses dois anos, passei pelo Dubai e finalmente, Lisboa, sempre nessa cadeia americana."
Não posso negar que fiquei espantada com o percurso que "ele" tinha tido... Mas não era de esperar outra coisa, "ele" sempre fora extremamente inteligente e eu sabia que "ele" havia de ter sucesso.
Enquanto falou pude finalmente observá-lo, porque desta vez tinha motivo para tal... Estava "crescido" mais uma vez... Denunciavam-se algumas rugas, exactamente aquelas que tinhamos falado há 6 anos atrás, num arraial de santos populares, perto da nossa faculdade. As que "ele" chamava de "rugas de expressão" e eu dizia que íam ser as maiores rugas da cara dele. A barba continuava a favorece-lo de longe... dava-lhe um ar distinto e interessante. Aparada, tratada e extremamente sexy. As mãos continuavam a gesticular daquela maneira tão dele... Tão própria, tão segura. Estava com um corpo mais definido, via-se que havia algum ginásio naqueles musculos e algum ciudado.
A única coisa que eu não consegui realmente ver, foram os olhos... Não tive a coragem de o fitar, de o procurar. Meu Deus... Eu estava a retroceder 6 anos em menos de 1 hora. Como é que era possível?!
Quando foi a minha vez de falar, de repente, a confiança e a determinação voltaram a mim... Não podia deixar que o passado interferi-se com o meu presente e tinha até de lhe mostrar que me tinha tornado numa mulher forte e confiante... Foi o que "ele" sempre me disse que queria que eu fosse e que tentava ensinar-me isso diariamente, portanto, ía-lhe mostrar que realmente eu tinha aprendido com "ele" e que era uma mulher bem sucedida.
À medida que eu ía falando, não pude deixar de reparar nele... Parecia indiferente, mas muito atento. Arregalou os olhos quando em disse que tinha estado em Paris... Se aquele homem que eu tinha conhecido há uns anos atrás se mantinha igual, certamente que se lembrava que Paris e NY eram os meus maiores sonhos.
Quando acabei de falar foi a primeira vez que nos olhámos nos olhos... "Ele" estava a olhar para mim e foi dificil não "esbarrar" com o olhar dele. Ficámos a olhar-nos directamente nos olhos durante uns segundos, até que eu baixei o olhar. Não estava preparada ainda para aquilo...
No fim daquele dia extremamente carregado de sentimentos, eu só queria chegar ao meu quarto, tomar um banho de espuma acompanhado de um cigarro e ligar à Rute! Precisava dela mais do que nunca... Como é que eu lhe ía dizer que aquele que eu continuava a querer esquecer ao fim de 6 anos, estava em NY e a trabalhar no mesmo hotel que eu?
"Rute... Estás aí ou já desligaste?"
"Estou... Mas acho que o sangue parou de correr nas minhas veias!"
"Amiga... por favor! Preciso das tuas palavras sábias neste momento... Se a ti te parou o sangue, imagina eu quando o vi entrar pela sala de reuniões."
"Eu nem quero imaginar, realmente! Mas olha que ele também não deve ter ficado melhor Catarina..."
"Ele estava óptimo Rute... Cumprimentou-me como se me tivesse visto a semana passada ou como se nunca se tivesse passado nada. Falou seguramente e nem voltou a falar comigo durante o dia!"
"Catarina... poupa-me! Ninguém ficava indiferente a esta situação... Ele pode ter muitos defeitos, mas tem sentimentos... e de certeza que quando vocês se afastaram também não foi fácil para ele não é?! Agora dá-lhe é tempo... Vocês vão ter de falar um dia, afinal de contas... estão em NY os dois... Destino ou não, aconteceu tal e qual como ele te disse..... só que não foram 10 anos, foram 6!"
A verdade é que mais uma vez, tinhamos deixado de nos falar por uma criancice. Eu estava perdidamente apaixonada e "ele" sabia. As coisas tinham se tornado muito intensas, tanto a nível de sentimentos como de proximidade fisíca. Eu era louca por "ele". Tornámo-nos demasiado próximos até que entrámos no limiar do perigo e do que nunca devíamos ter feito.
Numa daquelas noites quentes em que eu fui ter com ele para resolver alguns mal entendidos finais, acabámos por nos envolver... O desejo era muito mas até então, eu continuava sem saber se era mútuo ou se aconteceu só por acontecer. Como estava caída de amor e não me queria magoar, simplesmente afastei-me outra vez... Não deixei de falar, mas todas as sms, telefonemas, cumplicidade e especialmente a amizade, tinham desparecido de forma drástica. Depois daquela noite, cometi o erro de o tratar com um conhecido e não como o homem pelo qual eu estava apaixonada e com quem tinha passado uma noite louca de amor. De todas as vezes que ele tentou perceber o que é que se estava a passar, eu fugia à resposta... Até que, depois do último exame do nosso último ano de faculdade o sentimento de culpa invadiu-me por completo.. talvez porque sabía que já não o ía ver tão frequentemente... Quando quis resolver as coisas, ele não quis... Basicamente, voltámos à vida passada... ele continuou a relação que tinha e onde era seguro e eu... fiquei por aí... umas noites sozinha, outras acompanhada mas o seu beijo, o seu toque, o seu cheiro... tudo permanecia em mim desde então... A força, a confiança, a dedicação... tudo o que ele me tinha ensinado nos últimos 6 meses de curso estavam em mim bem presentes... Bem como aqueles olhos inconfundiveis, cor de mel!
Quando cheguei ao fim de todas estas lembranças, começaram a aparecer os primeiros raios de sol pela janela... Era melhor tomar outro banho e preparar-me para o meu segundo dia de trabalho... que aparentemente, ía ser bem longo!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O sonho começou....


"Parabéns! Foi a escolhida para a vaga de Events Manager do hotel em Nova Iorque!"
"Obrigada. Sei que farei um bom trabalho e que tanto ganharei eu como a cadeia!"
"Nós também o sabemos e por isso a contráctamos. Tem que se apresentar em Nova Iorque precisamente daqui a duas semanas. Sabemos que é tudo muito rápido, mas como a informámos, precisávamos de disponibilidade imediata e por isso a escolhemos."
"Claro. Não se preocupe que daqui a duas semanas, às 8.30 estarei no lobby do Hotel."
Ao sair dali, corri para junto dos meus amigos...Rute e Ruca. Tinha de contar-lhes tudo e aproveitar os escassos momentos antes da minha partida, junto do meu "sobrinho" Simão e daqueles 2 que tanto me apoiaram desde os tempos árduos de faculdade, até agora... 6 anos depois.
No caminho, aproveitei ainda para ligar à Margarida, essa companheira de outras vivências e amiga intima, que se juntaria a nós para jantar na Mansão Castro.
Não sei quem estava mais contente.. se eu ou se aqueles 3. Tínha "crescido" academicamente ao lado deles... Se hoje sou o que sou profissionalmente, também se deve a eles. A Rute, directora comercial duma cadeia de renome espanhol, o Ruca, director financeiro de um dos melhores hoteis nacionais e a Margarida, directora de F&B duma cadeia inglesa. Realmente a vida corria-nos bem aos 4... haviamos feito por merece-lo.
Os Rucas já estavam casados e já tinham o meu afilhado... O Simão... Moreno como o pai, observador como a mãe e adorado por todos nós... Afinal de contas, é o bebé ISLA! A Margarida vivia com o seu mais que tudo... Um belo dum gestor financeiro, que conheceu numa tarde de sol a surfar no Magoito. A quimica foi automatica e mudaram-se para o Algarve... Praia, sol e muito calor... Nada melhor para aquele casal bronzeado todo o ano.
Eu... continuava solteira ao fim de quase 6 anos! Sim, é claro que tinha tido umas "paixonetas" por aí, por aqui.. Mas nada sério. Desde um alentejano, ao reencontro com o meu belga numas férias de Verão... Vivi exclusivamente para o trabalho e foi assim que superei (pensava eu) aquele amor de fim de faculdade que acabou mal, muito mal. Trabalhei 6 meses em Portugal num hotel americano, concorri para Londres onde estive 2 anos e daí Paris... Ahh.. Paris... Um dos sonhos já estava!! Ao fim de 3 anos, decidi concorrer àquele anúncio que pedia uma Gestora de Eventos para um hotel afamado em Nova Iorque, com idade até 32 anos (ainda estava dentro do requerido), com disponibilidade imediata e minimo de 3 anos de experiência no ramo... Ora, já cá contavam 6 anos, contando ainda com aquele estágio durante as aulas do segundo ano.
E foi assim que fui aceite... Determinada e com garra. Parece que resultou!
Ao fim de duas semanas, de mais uma árdua despedida (esta talvez a mais dolorosa de sempre, atendendo a que era a que me levava para mais longe... Para lá do Atlântico.) lá estava eu... A bordo dum Airbus 341 da Tap (coincidências engraçadas...) a caminho do meu maior sonho de sempre... NOVA IORQUE!
No meio do vôo, por cima do atlântico lembrei-me dele... "Um dia, imagino-nos a partilhar casa em Nova Iorque.. como naquela série de televisão que ambos adoramos."... sorri ao de leve... o que seria feito dele ao fim de 6 anos? Onde estaria a trabalhar? Já teria casado? Seria feliz? E com esta pergunta... bateu a saudade... daquele sorriso, daquela cumplicidade... que houvera crescido em 5 meses e desaparecido numa semana. Mais uma vez tinhamos virado costas um ao outro assim... de repente, sem explicações. Desta vez, tinha sido eu a tentar falar, mas foi a mim que me viraram as costas.. Melhor assim talvez... Cada um seguiu a sua vida sem problemas....
O único problema que eu tinha, é que ainda não o tinha esquecido.... A Rute, no momento do meu embarque disse-me ao ouvido "Vê se é aqui que conheces o teu principe... para esqueceres o que já devias ter esquecido há muito tempo" - Ela era a única que sabia que eu continuava aqui presa... no passado! E que por isso trabalhava tanto... porque era a forma de o esquecer!
Quando aterrei em NY, saí do avião parei e simplesmente... sorri! Fechei os olhos e sorri por breves segundos... Tudo era tal e qual como eu sempre sonhara... A azáfama, a loucura, a correria! Era sem qualquer dúvida a cidade dos sonhos... e do meu, em especial.
Naquela manhã de frio e neblina, a imagem da ponte nunca me tinha parecido tão certa... tão segura. Era exactamente aquilo que eu queria para a minha vida! Passeei-me por Times Square, já depois de me ter instalado numa pensão barata por aquela zona... Por enquanto não ía ter tempo de procurar casa... Começava a trabalhar já amanhã. Comi um hot-dog e procurei uma igreja... sempre quisera ouvir gospell em NY. Tive a sorte de conseguir, logo na primeira noite....
Não tinha conseguido dormir nem 5 minutos, tal não era a excitação... Nem no meu primeiro emprego estava assim... Mas este era o SONHO!
Corrector de olheiras, base, rimel e lápis e parecia que tinha dormido mais de 10 horas. Vesti o meu melhor fato... De marca portuguesa, azul escuro, cintado. Camisa branca, fio de pérolas e brincos a condizer. Salto alto, não muito, há que estar confortável para conhecer o Hotel a pente fino.
Quando entrei naquele Lobby repleto de mármore, senti um arrepio descer da minha nuca até à minha cintura... Algo me dizia que qualquer coisa estava para acontecer.
O Sr. James Park dirigiu-se a mim. Já nos conhecíamos pois ele tinha ido a Lisboa entrevistar-me. Era um homem com sessenta e muitos anos, simpatiquissimo e muito humilde. Tinha começado como "door man" e agora era o gerente deste hotel em NY.
"Então como correu a viagem?!"
"Lindamente. A cidade é ainda mais bonita ao vivo."
"Esta é a cidade dos sonhos... e para uma mulher bonita no auge da carreira, mais ainda"
"Por isso vim sr. Park... porque acredito que aqui serei muito feliz"
"É verdade Catarina, hoje também começa a trabalhar um director comercial que é português. Foi seleccionado na mesma altura que a Catarina foi."
"Que emoção. Alguém com que falar a lingua mãe! E Portugal será bem representado, certamente"
"Claro que sim. Mas vamos nos dirigir para a sala Boston. É lá que vos vamos apresentar à Direcção"
Quando entrei na sala Boston, vi pessoas totalmente diferentes... Africanos, Orientais... Mesmo à filme... NY era de facto um filme. Só o português é que não tinha chegado ainda, mas eu também cheguei mais cedo... Ahh.. como mudei em 6 anos.
O Sr. Park recebe uma chamada da recepção e avisa-nos que nos podemos sentar porque o director comercial já tinha chegado e assim, começariamos antes da hora marcada para facilitar o trabalho de toda a gente. Saíu e foi buscá-lo à recepção, tal como fez comigo....
A directora de Marketing, Pilar, espanhola, já estava sentada a meu lado, feliz porque eu falava castelhano. Morena, alta e com um sorriso honesto. Pos-me logo à vontade e fez-me rir em menos de 5 minutos. Convidou-me para uma cerveja naquela noite.... No momento em que eu vou responder, o sr. Park abre a porta e entra seguido do director comercial....todos se levantaram para o cumprimentar, menos eu... estava colada à cadeira!
Eu não podia acreditar.... barba de uma semana, aparada, definida e cuidada... Fato azul escuro, camisa branca e gravata azul forte... mãos grandes... Olhos espertos, penetrantes e côr de mel.... Simpático, cordial, educadissimo, seguro de si...
Pilar agarra-me num braço e sussurra-me "Hey... então?! Não cumprimentas o teu conterrâneo?!"
O Sr. Park trá-lo até mim, que entretanto já me havia levantado... ele ainda não me tinha visto... Até que ele se vira.... e dá de caras comigo!
"Que se passa?" - perguntou intrigado Sr Park - "Nada...!" - respondi eu, quase sem voz e a tremer por todo o lado - "Nós já nos conhecemos" - disse ele, aparentemente seguro, mas tão nervoso quanto eu.
Esticou-me a mão e cumprimentou-me profissionalmente - "Como estás Catarina?!" - "Bem... obrigada!" - respondi eu, com a cabeça a mil...