sexta-feira, 9 de julho de 2010

O Sonho - VI


Depois daquela informação adquirida, tentei ao máximo pôr o meu sorriso mais natural como se aquilo fosse a coisa mais banal do mundo (que na verdade, era...) e mostrar-lhe que estava feliz por ele...
"Que bom! Fico contente por ti..." - A voz tremia-me...
"Bom... é a lei natural da vida não é?! Então mas e tu, solteira? Posso perguntar porquê?"
"Sei lá... Não são coisas que nos possamos obrigar a fazer não é? Na verdade, não voltei a ter uma relação "séria" desde que saímos da faculdade... Tenho vivido somente para a carreira. Não houve ninguém que me fizesse apaixonar, perder a cabeça, que me fizesse sentir bem como...." - Calei-me a tempo... ía-me saíndo "tu..."! Ele olhou para mim e rapidamente desviou o olhar com aquele ar misterioso dele... sabia exactamente o que me ía sair da boca. - "Mas então e tu? Casaste-te com a tua namorada da altura?"
"Não... Quando fui para Madrid as coisas começaram a ficar difíceis. Nem sempre era fácil ir a casa, a distância deu origem a cíumes e depois a distanciamento. Quando me mudei para a Suiça, não deu para aguentar mais. As coisas estavam saturadas. Foi aí que conheci a Emma. Eu estava sozinho, encontrei uma pessoa com quem passava muito tempo, que me deu o que eu precisava naquele momento e pronto... foi tudo muito rápido. Em 6 meses casámos."
"E és feliz?" - saíu-me disparado como uma flecha... Nestes 6 anos era algo que quando me lembrava dele, me questionava sempre... será que ele era feliz? Era curioso as coisas terem ficado como ficaram e eu continuar a querer mais do que tudo no mundo a felicidade dele.
"Sabes Catarina, aprendi nestes 6 anos que a felicidade é algo relativo. O que para mim pode ser estar feliz, para ti pode não ser. Mas posso te dizer que tenho tido bons e maus momentos nos últimos anos. Não fui a melhor pessoa em certas ocasiões, mas noutras fui e tenho orgulho nisso. Só quero ter a minha vida calma e organizada, dia-a-dia. Não espero a felicidade extrema, mas espero continuar a ter momentos em que me sinta bem, feliz e realizado e esses vou tendo de vez em quando. Até nem me posso queixar muito... E tu, és feliz?"
"Não... Não sou. Há muito tempo que deixei de saber o que isso é!"
"Mas tens a carreira com que sempre sonhaste... Isso já é alguma coisa."
"Sim.. é! Mas não ter com quem partilhar as vitórias nem com quem idealizar um futuro, chega a uma fase que é demasiado doloroso. E quando se chega aos 30 assim.. é complicado."
"Pois é... já és trintona" - brincou ele, fugindo subtilmente ao assunto.. não tinha mesmo perdido os velhos hábitos. - "Como é que é ter 30 anos?"
"Óptimo... atendendo a que tenho dinheiro para tratar de mim..." - rimos os dois alto... Mais alto do que tínhamos vontade mas serviu para afastar aquela conversa que nos estava claramente a deprimir. - "Mas a ti faltam-te poucos meses para saberes também como é. Aliás... durante um mês e pouco, estaremos no mesmo patamar."
"É verdade... vou celebrar os meus 30 anos em NY... Tem de ser memorável!"
"Pensei que fosses a casa...."
"Casa?! Aparentemente agora é aqui..."
Fiquei um bocado confusa com aquela frase uma vez que esperava que ele fosse a casa, ter com a família e com a mulher para celebrar aquele patamar importante na vida duma pessoa... 30 anos.

Depois de termos dividido a conta (eramos os dois demasiado orgulhosos para deixar o outro pagar o jantar) caminhámos calmamente pelas ruas de NY, recordando episódios engraçados do tempo de faculdade. Ele fez questão de me acompanhar até à pensão onde estava hospedada. Fiquei sem saber onde é que ele estava, se já tinha casa, se estava no hotel... mas na verdade, melhor assim. Não queria saber muito sobre ele, para não voltar a cair no mesmo erro de há 6 anos atrás.
No caminho comecei a encolher-me com frio e ele ofereceu-me o casaco ao qual eu recusei.. Não queria o cheiro dele na minha roupa, porque o meu quarto actual era demasiado pequeno e eu não ía suportar a ideia de ter o aquele odor mágico por todo o quarto. Mas havia algo que ele não tinha mudado... a teimosia. Deicidiu então pôr-me o braço por cima e afagar-me nele enquanto andavámos.. eu balbuciei "Obrigada, mas não me dá jeito..." - "Psstt... Cala-te!" - voltámos a rir os dois com vontade relembrando o passado mais uma vez.

Em menos de 10 minutos estava eu já no meu quarto a rever a noite, passo por passo, sorriso por sorriso, olhar por olhar... ele estava casado... CASADO! Mas porquê é que o destino brincava assim tanto comigo? Passados 6 anos sem o esquecer, ele volta a aparecer, mas agora... casado! Quem toma conta de mim "lá em cima" devía ter um plano muito macabro para mim... só podia. Enquanto estava perdida nos meus pensamentos, recebi um SMS... certamente seria a minha mãe a desejar-me boa noite. Quando abri o telemóvel, li o texto:
"Não sei se esta noite terá sido uma boa ideia, mas apesar disso quero que saibas que nestes 6 anos sempre que me lembrei de ti, lembrei-me do teu sorriso e acabei sempre por sorrir também. Boa noite."

Sentei-me no chão do quarto, junto à janela e explodi... chorei toda a noite... sem parar... e adormeci assim mesmo, naquele canto... A sorte é que tinha dois dias até voltar a vê-lo!

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