sexta-feira, 2 de julho de 2010

O sonho começou....


"Parabéns! Foi a escolhida para a vaga de Events Manager do hotel em Nova Iorque!"
"Obrigada. Sei que farei um bom trabalho e que tanto ganharei eu como a cadeia!"
"Nós também o sabemos e por isso a contráctamos. Tem que se apresentar em Nova Iorque precisamente daqui a duas semanas. Sabemos que é tudo muito rápido, mas como a informámos, precisávamos de disponibilidade imediata e por isso a escolhemos."
"Claro. Não se preocupe que daqui a duas semanas, às 8.30 estarei no lobby do Hotel."
Ao sair dali, corri para junto dos meus amigos...Rute e Ruca. Tinha de contar-lhes tudo e aproveitar os escassos momentos antes da minha partida, junto do meu "sobrinho" Simão e daqueles 2 que tanto me apoiaram desde os tempos árduos de faculdade, até agora... 6 anos depois.
No caminho, aproveitei ainda para ligar à Margarida, essa companheira de outras vivências e amiga intima, que se juntaria a nós para jantar na Mansão Castro.
Não sei quem estava mais contente.. se eu ou se aqueles 3. Tínha "crescido" academicamente ao lado deles... Se hoje sou o que sou profissionalmente, também se deve a eles. A Rute, directora comercial duma cadeia de renome espanhol, o Ruca, director financeiro de um dos melhores hoteis nacionais e a Margarida, directora de F&B duma cadeia inglesa. Realmente a vida corria-nos bem aos 4... haviamos feito por merece-lo.
Os Rucas já estavam casados e já tinham o meu afilhado... O Simão... Moreno como o pai, observador como a mãe e adorado por todos nós... Afinal de contas, é o bebé ISLA! A Margarida vivia com o seu mais que tudo... Um belo dum gestor financeiro, que conheceu numa tarde de sol a surfar no Magoito. A quimica foi automatica e mudaram-se para o Algarve... Praia, sol e muito calor... Nada melhor para aquele casal bronzeado todo o ano.
Eu... continuava solteira ao fim de quase 6 anos! Sim, é claro que tinha tido umas "paixonetas" por aí, por aqui.. Mas nada sério. Desde um alentejano, ao reencontro com o meu belga numas férias de Verão... Vivi exclusivamente para o trabalho e foi assim que superei (pensava eu) aquele amor de fim de faculdade que acabou mal, muito mal. Trabalhei 6 meses em Portugal num hotel americano, concorri para Londres onde estive 2 anos e daí Paris... Ahh.. Paris... Um dos sonhos já estava!! Ao fim de 3 anos, decidi concorrer àquele anúncio que pedia uma Gestora de Eventos para um hotel afamado em Nova Iorque, com idade até 32 anos (ainda estava dentro do requerido), com disponibilidade imediata e minimo de 3 anos de experiência no ramo... Ora, já cá contavam 6 anos, contando ainda com aquele estágio durante as aulas do segundo ano.
E foi assim que fui aceite... Determinada e com garra. Parece que resultou!
Ao fim de duas semanas, de mais uma árdua despedida (esta talvez a mais dolorosa de sempre, atendendo a que era a que me levava para mais longe... Para lá do Atlântico.) lá estava eu... A bordo dum Airbus 341 da Tap (coincidências engraçadas...) a caminho do meu maior sonho de sempre... NOVA IORQUE!
No meio do vôo, por cima do atlântico lembrei-me dele... "Um dia, imagino-nos a partilhar casa em Nova Iorque.. como naquela série de televisão que ambos adoramos."... sorri ao de leve... o que seria feito dele ao fim de 6 anos? Onde estaria a trabalhar? Já teria casado? Seria feliz? E com esta pergunta... bateu a saudade... daquele sorriso, daquela cumplicidade... que houvera crescido em 5 meses e desaparecido numa semana. Mais uma vez tinhamos virado costas um ao outro assim... de repente, sem explicações. Desta vez, tinha sido eu a tentar falar, mas foi a mim que me viraram as costas.. Melhor assim talvez... Cada um seguiu a sua vida sem problemas....
O único problema que eu tinha, é que ainda não o tinha esquecido.... A Rute, no momento do meu embarque disse-me ao ouvido "Vê se é aqui que conheces o teu principe... para esqueceres o que já devias ter esquecido há muito tempo" - Ela era a única que sabia que eu continuava aqui presa... no passado! E que por isso trabalhava tanto... porque era a forma de o esquecer!
Quando aterrei em NY, saí do avião parei e simplesmente... sorri! Fechei os olhos e sorri por breves segundos... Tudo era tal e qual como eu sempre sonhara... A azáfama, a loucura, a correria! Era sem qualquer dúvida a cidade dos sonhos... e do meu, em especial.
Naquela manhã de frio e neblina, a imagem da ponte nunca me tinha parecido tão certa... tão segura. Era exactamente aquilo que eu queria para a minha vida! Passeei-me por Times Square, já depois de me ter instalado numa pensão barata por aquela zona... Por enquanto não ía ter tempo de procurar casa... Começava a trabalhar já amanhã. Comi um hot-dog e procurei uma igreja... sempre quisera ouvir gospell em NY. Tive a sorte de conseguir, logo na primeira noite....
Não tinha conseguido dormir nem 5 minutos, tal não era a excitação... Nem no meu primeiro emprego estava assim... Mas este era o SONHO!
Corrector de olheiras, base, rimel e lápis e parecia que tinha dormido mais de 10 horas. Vesti o meu melhor fato... De marca portuguesa, azul escuro, cintado. Camisa branca, fio de pérolas e brincos a condizer. Salto alto, não muito, há que estar confortável para conhecer o Hotel a pente fino.
Quando entrei naquele Lobby repleto de mármore, senti um arrepio descer da minha nuca até à minha cintura... Algo me dizia que qualquer coisa estava para acontecer.
O Sr. James Park dirigiu-se a mim. Já nos conhecíamos pois ele tinha ido a Lisboa entrevistar-me. Era um homem com sessenta e muitos anos, simpatiquissimo e muito humilde. Tinha começado como "door man" e agora era o gerente deste hotel em NY.
"Então como correu a viagem?!"
"Lindamente. A cidade é ainda mais bonita ao vivo."
"Esta é a cidade dos sonhos... e para uma mulher bonita no auge da carreira, mais ainda"
"Por isso vim sr. Park... porque acredito que aqui serei muito feliz"
"É verdade Catarina, hoje também começa a trabalhar um director comercial que é português. Foi seleccionado na mesma altura que a Catarina foi."
"Que emoção. Alguém com que falar a lingua mãe! E Portugal será bem representado, certamente"
"Claro que sim. Mas vamos nos dirigir para a sala Boston. É lá que vos vamos apresentar à Direcção"
Quando entrei na sala Boston, vi pessoas totalmente diferentes... Africanos, Orientais... Mesmo à filme... NY era de facto um filme. Só o português é que não tinha chegado ainda, mas eu também cheguei mais cedo... Ahh.. como mudei em 6 anos.
O Sr. Park recebe uma chamada da recepção e avisa-nos que nos podemos sentar porque o director comercial já tinha chegado e assim, começariamos antes da hora marcada para facilitar o trabalho de toda a gente. Saíu e foi buscá-lo à recepção, tal como fez comigo....
A directora de Marketing, Pilar, espanhola, já estava sentada a meu lado, feliz porque eu falava castelhano. Morena, alta e com um sorriso honesto. Pos-me logo à vontade e fez-me rir em menos de 5 minutos. Convidou-me para uma cerveja naquela noite.... No momento em que eu vou responder, o sr. Park abre a porta e entra seguido do director comercial....todos se levantaram para o cumprimentar, menos eu... estava colada à cadeira!
Eu não podia acreditar.... barba de uma semana, aparada, definida e cuidada... Fato azul escuro, camisa branca e gravata azul forte... mãos grandes... Olhos espertos, penetrantes e côr de mel.... Simpático, cordial, educadissimo, seguro de si...
Pilar agarra-me num braço e sussurra-me "Hey... então?! Não cumprimentas o teu conterrâneo?!"
O Sr. Park trá-lo até mim, que entretanto já me havia levantado... ele ainda não me tinha visto... Até que ele se vira.... e dá de caras comigo!
"Que se passa?" - perguntou intrigado Sr Park - "Nada...!" - respondi eu, quase sem voz e a tremer por todo o lado - "Nós já nos conhecemos" - disse ele, aparentemente seguro, mas tão nervoso quanto eu.
Esticou-me a mão e cumprimentou-me profissionalmente - "Como estás Catarina?!" - "Bem... obrigada!" - respondi eu, com a cabeça a mil...

2 comentários:

  1. Bem...
    Realmente parece sonho... É director disto, directora daquilo... Tudo corre bem, ninguem teve problemas em subir na carreira...

    Tirando essa parte que me parece pouco real, acho q melhoras-te à medida que foste escrevendo.
    Agora deves continuar porque tens seguidores...

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  2. A forma como se subiu na carreira não tinha de ser explicada... Aliás, "Realmente a vida corria-nos bem aos 4... haviamos feito por merece-lo." - não significa que não houve problemas.

    Falta pouco para a acabar... planeio que seja na 10ª parte... Gosto de números certos.

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